quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Lisboa, capital europeia da espionagem - Parte 2

Do lado da Alemanha

A guerra secreta alemã contou, por seu turno, com várias agências, entre as quais se contou o serviço secreto do Alto Comando Militar Alemão, a Abwehr, dirigido pelo almirante Canaris. 
Este serviço, sediado na Legação da Alemanha em Lisboa, era chefiado em Portugal pelo major Albrecht von Auenrode, ou «Ludovico von Karshtor». A secção III de contra-espionagem da Abwehr era, por seu turno, dirigida pelo capitão Fritz Kramer, nome que constou de uma lista de alemães suspeitos de espionagem, elaborada pela PVDE em 30 de Abril de 1945, onde ele era apresentado como «chefe da contra-espionagem alemã» em Portugal desde 27 de Novembro de 1940. Outro elemento suspeito incluído nessa mesma lista era Erich Emil Schroeder, Oficial de Ligação da Polícia Alemã (OLPA, Polizei Verbindungsführer), que terá provavelmente sido o elemento da Gestapo-Sicherheitdienst (SD), em Portugal, sucedendo, em 1941, a Walter Schellenberg.

Raptos planeados e efectivados

Este chefe das SS tinha começado por trabalhar na secção de contra-espionagem da Gestapo na Alemanha e nos territórios ocupados, mas depois reorganizou os serviços secretos alemães no estrangeiro, tendo passado nessa qualidade várias vezes por Portugal, em 1940. No verão deste ano, programou os raptos, em Lisboa, dos germanófilos duques de Windsor do ex-nacional-socialista Otto Strasser, antigo dirigente da Deutshe ArbeitsFront (DAF).

Entre Junho e Outubro de 1940, os duques de Windsor permaneceram em casa do banqueiro português Ricardo Espírito Santo, no Estoril, tendo o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Von Ribbentrop, tentado utilizar a germanofilia do ex-rei britânico e da sua esposa americana, Wallis Simpson, para os “remover” para a Alemanha ou para um dos países sob seu controlo. Nas suas memórias, Schellenberg afirmou ter sabido que o duque não acataria voluntariamente o plano e ter achado um contra-senso a ordem de o raptar. Esta ordem acabou por não ser levada adiante e, no dia 2 de Agosto de 1940, o duque de Windsor e Wallis Simpson partiram, de Lisboa, no navio «Excalibur», rumo às Bahamas, tal como pretendia Churchill.

Quanto a Otto Strasser, um elemento da ala de «esquerda» do Partido nazi, odiado, tal como o era o seu irmão Gregor Strasser, por Hitler, que os considerava traidores pessoais, Schellenberg foi incumbido de o assassinar, em Portugal, onde se pensava que estava. O agente da Gestapo referiu também nas suas memórias, que se concluíra que Strasser não estava em Portugal e que, por seu conselho a ordem de assassinato fora anulada. Diga-se, porém, que Otto Strasser passou, realmente, por Portugal, no Verão de 1940, bem como outros nazis ou ex-nazis.
Embora essas duas operações não tivessem sido levadas por diante, o mesmo não aconteceu com o opositor anti-nazi alemão Berthold Salomon Jacob, raptado pela Gestapo na baixa lisboeta, no Verão ou Outono de 1941. Jacob já tinha sido raptado na Suíça e levado para a Alemanha, em 1935, mas devido a protestos internacionais, tivera de ser reenviado para a Confederação Helvética. Partira, depois, para Portugal, mas, antes de poder embarcar num navio, foi novamente apanhado, levado à força para o Reich, onde acabaria por morrer em consequência das torturas a que foi sujeito.

Outro caso controverso, também ocorrido em Lisboa foi o rapto e o envio para a Alemanha do oficial alemão da Abwehr, Johann Jebsen, que terá colaborado com uma rede de agentes duplos jugoslavos (certamente, através do seu amigo, Dusko Popov, ou «Triciclo»), desde o Verão de 1943. Em 28 de Março de 1944, Jebsen informou os serviços secretos ingleses, através de Graham Maingot, do SIS, de que a Abwehr tinha começado a suspeitar de «Triciclo», mas que ele próprio tinha travado o processo. Acrescentou que, no dia seguinte, iria receber uma condecoração, na Legação alemã em Lisboa. No entanto, mal entrou no gabinete de Aloys Schreiber, para receber a Cruz de Guerra, foi violentamente espancado e interrogado. Em 1 de Abril de 1944, foi tirado, inconsciente, para um automóvel de matrícula diplomática alemã, que o levou para França, a chamada operação «Dora». Entregue à Gestapo, foi executado no campo de concentração de Sachsenhausen (Oranienburg), em Abril de 1945.

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