segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Redes sociais são combustível para a infidelidade?

Antes, a suspeita podia nascer dos excessos do conta-quilómetros, da conta bancária, do horário. Agora, qualquer rede social pode fazer disparar o alarme. Comenta demasiado as fotografias ou as palavras de alguém? O que escreve? E como reage o outro? As novas tecnologias introduziram algumas mudanças na forma como as pessoas se relacionam umas com as outras. Sete em cada dez portugueses consideram-nas um combustível para a infidelidade.

Não há quem não tenha uma história para contar. Basta lançar o repto na mais popular rede social, o Facebook, para as coleccionar. Ora, leia esta: "A melhor foi a de uma colega de trabalho que estava a meio do expediente. Ligou o Facebook e leu um daqueles posts de perguntas acerca de amigos na página do marido. Era qualquer coisa como: "P: Quando é que X é mais mal disposto? R: Ao pequeno-almoço." Ela perguntou-nos o que achávamos que aquilo queria dizer. Foi um pé-de-vento lá em casa."

O desconfiado pode vigiar o perfil do companheiro. "Hoje, ao contrário do passado, a não exclusividade é razão para desfazer um casamento", nota a terapeuta familiar Gabriela Moita. "E muitos casais vivem obcecados com a ideia de descobrir se o outro lhe é infiel. Controlam os telemóveis, o Facebook, a Internet, tornam a vida, a sua e a do outro, terrível."

Na Internet, como fora dela, nem sempre o que parece é. Só para lançar a confusão, lembra a psicóloga Catarina Ribeiro, uma pessoa pode escrever no mural de outra: "Adorei o nosso último encontro." Até um casal estável pode ser permeável a um comentário deste tipo. Uma mulher inquietou-se ao ler no mural do marido: "Não podemos adiar o nosso reencontro." Não era, afinal, uma amante. Era uma antiga colega de escola que o queria reencontrar.

As redes sociais têm a particularidade de trazer, de enxurrada, figuras de outros tempos. Sobram histórias de namorados da adolescência ou da juventude que se reencontram na Internet, e que, embalados pela intensidade do passado, idealizam um futuro. Quantos casados?

O psiquiatra Allen Gomes não sabe se a infidelidade aumentou. Sabe que "as pessoas são apanhadas". "Porquê? Porque têm um desejo tão grande de ser amadas que guardam as mensagens escaldantes que recebem no Facebook e no telemóvel. Não as apagam. E são descobertas. É como as cartas de amor de antigamente, que se guardavam com um laçarote."

A escritórios de advogadas como Rita Sassetti chegam cada vez mais casos de divórcio resultantes de infidelidades descobertas nos computadores e nos telemóveis. Um estudo britânico responsabiliza o Facebook por 20 por cento dos divórcios. Em Portugal, não há estudos. Os portugueses, todavia, parecem convencidos dos poderes (maléficos?) das novas tecnologias: 55,4 por cento concordam e 16,2 por cento concordam completamente com a ideia de que contribuem para o aumento da infidelidade. Esta crença é mais forte no Norte litoral. E mais fraca entre divorciados.

Para Gustavo Cardoso, especialista em tecnologias de informação, não tem sentido culpar as novas tecnologias: "A lógica das redes sociais é multiplicar as relações fracas e aprofundar as relações fortes." É inegável que a Internet alarga o universo de pessoas acessíveis. A paixão, porém, requer bem mais do que isso. Tem de haver uma certa predisposição para a viver. "Se as pessoas querem ser infiéis, tanto podem sê-lo saindo à noite, como indo ao Facebook", enfatiza. "É possível ser mais infiel no Facebook? É. Até se pode ter seis janelas abertas ao mesmo tempo."


Fonte: O Público

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